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Amor às Kuartas

Aqui fala-se de amor às quartas-feiras

Aqui fala-se de amor às quartas-feiras

Amor às Kuartas

28
Jun17

Enamoramentos

Kalila

«O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente...
Cala: parece esquecer...

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar, 
E se um olhar lhe bastasse
P'ra saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...»

Fernando Pessoa

 

Fala de amor este poema...

Fernando Pessoa é ímpar nesta abordagem!

Mas este amor contido, envergonhado e sem jeito lembra-me a história da menina feia, que todos possuíam, todos abandonavam e com quem ninguém queria casar. Porque a menina feia chamava-se Culpa...

Quem a possuía não tinha vergonha dela precisamente por ser tão feia! Mas tinha vergonha do mundo precisamente pelo mesmo motivo!

Ao cair em si, cada um dos seus amantes poderia falar assim, não por vergonha de a amar, por medo de a possuir. 

Poderá até o mundo ser implacável e ter ou não carradas de razão mas urge encará-lo de frente sem rubores enamorados! Porque esta menina feia, de nome também tão feio, pode até não querer casar e sim que se lhe declarem.

Dizem que é cedo, será? Dizem que há tempo, talvez.

Mas não falem assim connosco porque não lhes reconhecemos dotes poéticos e nem suportamos que os procurem ter!

Tudo terá o seu tempo, para já não temos pressa, só urgência na reposição da nossa própria inteligência.

E agora, queridos leitores, tornem a ler o poema do nosso grande Pessoa e digam-me se os nossos queridos políticos e os nossos queridos altos responsáveis de tudo o que são organismos do Estado não andam a falar assim connosco!... 

A menina feia pode até morrer solteira, poderá nem existir mas nenhum de nós está interessado nas paixões que fogem dela.

21
Jun17

All we need is love!

Kalila

images AMOR PINTEREST.jpg

 

Este é um blog sobre o amor. Hoje venho falar da falta dele. De nenhuma forma em específico. Dele... na generalidade.

Estivemos de luto, seja lá isso o que for em termos nacionais. Assistimos a tragédias, dramas, perdas de vidas, de bens, de paisagens e ao horror. Sofremos como se fosse connosco, chorámos, tivemos insónias solidárias e apoquentámos-nos quase tanto como quem sofria na pele. E temos grandes corações! Mal foi pedido aí estamos todos a contribuir até já não haver armazém que chegue! Somos bons, solidários, ansiamos ajudar, revemos-nos nos sofredores e, no desespero e raiva deles, refletimos os nossos, procuramos culpados, apontamos defeitos e escrutinamos falhas. A explicação é fácil: somos portugueses.

A comunicação social manteve-nos informados, incrédulos e chorosos. Dos vários canais ao dispor tratámos de crucificar uns e maldizer outros, deve ter havido também algum louvor mas juro que não vi nenhum. Tão fácil que é criticar mesmo com desconhecimento de causa ou até completa ignorância! Temos tanto amor solidário, tanto carinho para dar, tanto temperamento português para pôr à prova, porque será que nos falta tanta consideração por quem nos informa, por vezes de forma quase desgraçada?

Há toda uma engrenagem no mundo das notícias, muito quem não a compreenda, o serviço pode ser péssimo ou excelente mas o resultado é sempre o mesmo: falta de compreensão por imprevistos, falhas de conteúdo, esforço exagerado e até dúvidas morais, no calor dos acontecimentos. Não deve ser fácil ser profissional de informação onde falta tanto, até o amor. Vemos, gostamos e apreciamos ou não mas não vi uma única palavra abonatória, apenas e só o contrário.

Será a nossa comunicação social assim tão má ou falta-nos um bocadinho de compreensão, de complacência e de brandura?

Falta-nos amor!

E não só em questões desta natureza. Opinamos em tudo, somos todos donos da razão. Nem nos damos ao trabalho de fundamentar as nossas posições, simplesmente dizemos mal, porque sim, porque é o que pensamos e nem nos preocupamos em saber o porquê das coisas!

Falta-nos amor! Quem ama perdoa, não fica com raiva nem ressentimentos por qualquer coisa! Quem ama o mundo aceita-lhe as falhas porque não se ama só pela perfeição!

E o mundo somos todos, quem informa, quem vive as coisas, quem só assiste, quem estuda os assuntos e até quem faz coisas parvas porque simplesmente achou na altura que era o melhor a fazer. 

Não concordamos com o que foi dito, feito ou concluído? Pois discordemos! O que nunca é necessário é menosprezar, achincalhar e ofender!

Começa por pequenas coisas, de somenos importância mas não menos brandura nossa: a ação de alguém, o que foi dito em face do momento x, o que alguém comentou a propósito de y, o que algum famoso resolveu partilhar, o que se consta, sem procurar saber se é verdade... Parece que estamos todos desejosos de destilar venenos em raivas e ódios colossais. O que é isto, afinal???

Somos um pequeno pedaço do mundo, estivemos sempre na cauda de várias coisas, não só da Europa, agora de repente somos vanguardistas do que há de pior na natureza humana?! Não é que isto não aconteça também no resto do mundo mas se conseguíssemos medir estaríamos seguramente nos primeiros lugares!

E porquê? Porque somos portugueses e tacanhos? Ou porque a nossa inteligência é tanta e tão desmedida que não cabe em nós e tem que ser bradada aos quatro ventos sem dó nem piedade?

Muito sinceramente, não costumo andar muito por dentro deste tipo de coisas de raivas e guerrinhas que para mim são disparates e nada mais do que isso. Agora vi-me confrontada com isto sem querer em face dos acontecimentos. Afinal não se guerreia só por motivos fúteis, até a tragédia e a mágoa servem para os mesmos propósitos!

Irra! 

AMEMOS-NOS MAIS UNS AOS OUTROS, POR FAVOR!

(imagem Pinterest)

 

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14
Jun17

Príncipes e princesas dos nossos castelos

Kalila

CASTELO PINTEREST.jpg

 

Há "princesinhas do papá" que são meninos. Que podem ser hiperativos, hiper-rabugentos, hiper-niquentos ou até hiper-intragáveis. Mas que, de uma maneira geral, são fofinhos. Porque as crianças são fofinhas! Ainda mais porque sendo extensões de quem se ama e parecidos com quem se ama costumam ser despoletadores de imaginações românticas acerca da infância de quem se ama; só podem ser fofinhos...!

Alguns são doces e, sendo meninas, são-no quase de certeza... Mas podem ter sofrido muito com a separação dos pais. E "sofrerem" de mimo exagerado por esse mesmo motivo... Podem ter mães horríveis que os sintam prolongamentos de ligações falhadas... Ou terem mães maravilhosas, perfeitas, divinas, a fazerem vacilar a crença de que quem está connosco é um anjo sem asas que caiu do céu para o nosso colo. Porque sendo elas perfeitas e eles maravilhosos como raio é que aquilo falhou?

No quadro inverso, há de tudo. Padrastos derretidos, impacientes, incomodados e até delirantes de alegria. Mesmo que o príncipe ou a princesinha destruam a playstation, encham o computador de vírus com os jogos da moda, monopolizem a televisão ou, ainda, para os mais "domésticos", destruam parte da casa que eles decoraram, reconstruiram ou reabilitaram com muito muito amor e todo o empenho.

No topo da tabela das inconveniências estão os "crescidotes", pré-adolescentes ou adolescentes completos que são um manancial de problemas, que quanto mais casas e famílias têm mais se empolgam com assuntos próprios da idade, incomodativos da paz familiar e, quiçá, do próprio do amor do casal. 

Mas é tão bom ter filhos! Ainda que sejam os dele ou os dela... O amor e a dedicação a isso obrigam, acolhemos no nosso coração o de outro alguém e mais todos os da sua amada prole. Vêm de fim-de-semana ou vêm para sempre e fogem no fim-se-semana... Repartem as férias, a educação, as despesas, a paciência, tudo o que houver, por duas famílias, às vezes mais, quando também é hábito estarem com os avós...

"Os teus, os meus e os nossos" costuma ser uma história engraçada quando nascem "os nossos", porque tudo é alegria, a vida é uma festa, não há nada melhor do que uma casa cheia... mas é nos filmes! Na vida real avolumam-se os problemas, os ciúmes e a responsabilidade em multiplicações bem bem bem multiplicadas.

E o amor? Resistirá?

Convém que resista. Dizem os entendidos que amor que não resiste a isso não tem suficiente grandeza.

Será? E o mundo é cor de rosa? Ou tem laivos de outra cor, assim a puxar para a da incógnita de saber ou não viver em dose certa de amor seja qual for o contexto ou a condição?

Circunstâncias à parte, o bom mesmo é amar; sendo também amado a felicidade é suprema, e esta regra é tão certa que se aplica também aos filhos do outro, no vulgo enteados, no AMOR só filhos.

 

(imagens Pinterest)

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07
Jun17

Seria amor?

Kalila

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No meio da noite quente e silenciosa uma lua minguante e brilhante acomodava no céu resquícios de alegria. Cá em baixo, na cadeira de plástico verde, alguém sentado a desfrutar do escuro e da calma morna. Um pensamento fugidio cruzava-lhe a mente qual estrela cadente: "Seria amor?".

Eram duas da manhã daquela noite cálida sem brisa nem vento. Tudo era sossego no pequeno jardim da casa, tudo menos o pensamento errante daquela cabeça na cadeira verde.

A casa não era moradia, apartamento ou anexo era uma pequena mas linda casa de aldeia que tinha sido reconstruida. Um gosto para os olhos de quem passava, um excelente refúgio para a Catarina.

Estava nas traseiras, com muros e paredes por todos os lados, um pessegueiro num canteiro e um limoeiro no outro. Vasos de cores vivas, plantas e flores várias completavam o cenário dos pensamentos dela. Adorava estar ali, até no Inverno, desde que não chovesse, costumava encontrar-se consigo própria entre o vaso dos craveiros e o das begónias.

Ele tinha acabado de sair, pela frente da casa, já tinha chave para poder trancar a porta e o pequeno portão atrás de si. O nome era Pedro, os olhos eram lindos, a ligação ainda recente, as dúvidas enormes. 

No que consistiria afinal o amor? Para além do arrebatamento dos encontros, da alegria e da comunhão nas saídas, da cumplicidade nos pensamentos e das falas mudas por telepatia deveria existir algo mais, pensava Catarina. Algo que não oferecesse dúvida alguma, algo que se sentisse de maneira clara e inequívoca, algo que não o deixasse ir embora... 

Só uma vez ficara até de manhã e porque adormecera. Falava no gato que estava sozinho, nas plantas que tinha de regar, na roupa no estendal, mil e uma coisas para ter que ir embora. Não ia para longe, vivia perto, mas ia embora.

Se era ela a estar na casa dele, depressa sentia que tinha que voltar para a sua. Qualquer coisa difícil de explicar encarregava-se de lhe fazer sentir que era visitante...

Ele era comedido nas escolhas, pensava e analisava tudo tacitamente, ela mais impulsiva mas também com algum medo de precipitações. Já fora infeliz com escolhas erradas. Confundir paixão e amor era o seu dilema.

Levantou-se. À luz do luar, o limoeiro imponente parecia querer dizer-lhe alguma coisa, as folhas do pessegueiro agitaram-se levemente com uma ligeira brisa que passou, a roseira anã envasada estendia-lhe uma rosa no ramo maior, um cravo branco ameaçava rebentar o cálice com a pujança da flor. O resto mal se via mas estava tudo ali para a confortar, até a porta da cozinha que a acolhia na casa pequena. Grande só o gosto que tinha em viver ali.

A campainha assustou-a e a chave na porta da frente ainda mais. Estremeceu. "Seria possível?!"

Quando a porta se abriu o céu estrelado imponente tornou-se majestoso com o que emoldurava. Uma breve justificação de ter tocado para não assustar, um olhar de mel, o gato no colo e uma mochila nas costas que foi empurrando a porta enquanto ela o abraçava. Sentiram-se as lágrimas enquanto um sussurro doce chegava ao ouvido dela: "Não consigo estar sem ti".

Afinal era amor... 

 

(imagem Pinterest)

 

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